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Ela, vulcão. Ele? Frio.

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Blog Perspectiva Nova - Ela, vulcão. Ele? Frio.

VULCÃO
s.m. Abertura na crosta terrestre através da qual saem eventualmente lava, gases, cinza etc. Relevo edificado pelas lavas expelidas do interior da Terra por um conduto. Fig. Perigo iminente. Pessoa de natureza explosiva, impetuosa. Imaginação ardente. [ Dicio ]

De personalidade forte, sem papas na língua, daquelas que abraça causas impossíveis e nutre sonhos altos. A vida para ela é sempre mais intensa. É daquelas que tem opinião para e sobre tudo. Que fala de poesia a política. De Ozzy Osbourne a Ludwig van Beethoven. De receita de bolo a fórmula do DNA. Um tanto futurista que chega a ser engraçada. Brava (ás vezes) e, principalmente, teimosa. Já vou logo avisando que não adianta tentar fazê-la desistir de suas ideias malucas! Ela sabe o que faz. Pelo menos deixe-a achar que sim.

Anda por aí com seu jeans velho, all star surrado e fones de ouvido. Tem o cabelo bagunçado que sob o sol ganha outras cores. Olhos de gazela e não esqueçamo-nos do batom-vermelho-de-cada-dia. Dessas que não liga para moda tampouco por estar fora dos padrões. Ela é cheia de si. É ação que provoca reação.

Conhece muita gente, mas poucos a conhece realmente. Seus finais de semanas são alternados entre séries de ficção, estudos e acordes de violão. É caseira, mas não muito de família. Também não é muito festeira e não dispensa a companhia dos bons amigos.

Na tentativa de viver o amor, sofreu desamores. Ergueu a cabeça e tocou a vida. Já estava desistindo desse lance... até conhecê-lo.

FRIO
s.m. Cuja temperatura é baixa; que expressa ou parece possuir uma temperatura mais baixa do que a corporal. Estação em que a temperatura é mais baixa; o inverno: o frio está chegando. adj. Que expressa ou está com a temperatura baixa. Figurado. Insensível; que não demonstra ou não possui sentimentos. Reservado; que é contido, sisudo, circunspecto. Frígido. [ Dicio ]

Dono de um sorriso cativante, voz mansa e cabelos de índio. Sempre com uma pose impecável, ar metido e um perfume forte. Desses que medem as palavras com medo de ferir alguém, que tem sonhos óbvios e já vem com um roteiro pronto: estudar, trabalhar, casar, ter filhos e viajar nas férias. Desses que conhece de tudo e fala quase nada, que age sempre com cautela, um tanto conservador e chato. Estilo galã de novela que por onde passa provoca suspiros. Um cara de família que curte festas, bem relacionado, já trabalha, mas não sai da asa da mamãe.

Conhece pouca gente, mas muitos o conhece. De vista. Cara misterioso com olhar distante e mente nas nuvens. Sempre de poucas palavras, conversa em códigos que só ele pode decifrar. Desconfiado, sempre fica na sua. Do tipo que espera reação pra ter ação.

Na tentativa de viver o amor, sofreu desamores que deixaram cicatrizes. Jura que deu continuidade na vida, embora nunca tenha deixado o passado.

DESTINO
s.m. A fatalidade a que estariam sujeitas todas as pessoas e todas as coisas do mundo; fado; fortuna: ninguém é senhor do seu destino. Emprego, aplicação. Direção, rumo: andar sem destino. Fim, termo, sumiço. Existência, vida: azares do destino. [ Dicio ]

Conheceram-se por amigos em comum. De comum, nada tinham. Vai ver foi sina. Não demorou muito, trocaram olhares, beijos e carícias. Ela que soube sempre aonde chegar, se viu perdida dentro daqueles olhos castanhos enigmáticos. Ele a contava histórias que sequer eram suas, compartilhou relatos de infância e sua cama. Atiçava seu desejo de conhecer o mar do nordeste, falava de seus planos para o futuro (aquele roteiro pronto) e se gabava do quão bom era nas coisas que já fez.

Ele corrigia seu português e ela deixava mesmo quando não havia o que corrigir. Falava de astros, deuses, leis e interpretava músicas enquanto dirigia. Ela que falava de tudo, de nada tinha a dizer. Só sentir. E não foi preciso muito, sentiu paixão desmedida. Sentiu coisas inexplicáveis que incendiaram seu ser. Como se acordasse de um sono profundo...

Contou-lhe os sonhos que tinha com ele, compôs versos e se transformou numa pseudo poetiza tentando explicar o que estava vivendo. Ele não quis entender, nem ouvir e muito menos se atreveu a fazer algo. Preferiu o silêncio. E não foi preciso muito, se distanciou desmedidamente.

Certa vez, disse que dela gostava, embora nunca provou. Ela que não gostava de admitir que estava na dele, provou até demais. Mais e mais... A paixão a queimava viva, roubava-lhe o sono e presenteava-lhe com ilusões. Mais e mais... Ele sumia e reaparecia quando menos se esperava. Ela que era cheia de si, sentiu o vazio do desprezo. Certo dia, quando por ele esperou, ele não mais apareceu (estava congelado em seu próprio tempo). É a vida.

Ela, sem destino, por destino ficou só. Não era amor, tampouco paixão. Era uma fria que lhe causou erupção sentimental. Sentiu cada víscera revirar, cada osso estremecer. Então expeliu até a alma transbordando seu íntimo. Não se preocupou se iria devastar o que estava ao redor, precisava colocar aquilo para fora. Aquilo que não mais lhe fazia sentir bem. Chorou todas as lavas. Lavou seu ser.

...E como vulcão inativo, adormeceu...