Saber dizer adeus é também sobre se dar uma segunda chance de ser feliz | A Ilha secreta Pular para o conteúdo principal
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Saber dizer adeus é também sobre se dar uma segunda chance de ser feliz

Metaforicamente 0


Essa história que arrasto nas costas, perambulando os anos, me tira o conforto dos dias e assombra minhas noites com berros de agonia. São fantasmas implorando por redenção, monstros aflitos enjaulados em minhas reminiscências. Você se foi a muitos outonos. Mas eu continuo rascunhando seus traços no esboço do meu horizonte. Sequer é você mais... Retirei o bom que sobrou de nós e costurei à minha ficção. Debaixo desta colcha de retalhos escondo as feridas que mantenho abertas, sangrando qualquer vestígio de paz.

Entre goles de café e água etílica amaldiçoo o bendito dia em que te conheci. Entre minhas canções favoritas e as suas que tomei para mim, toca o silêncio da sua ida sem volta. O silêncio que deu um nó no meu estômago e me fez regurgitar todas as palavras entaladas na garganta. O silêncio que me derrubou e calou minhas lágrimas. Nada foi dito, de fato, apenas sentido.

Nesse barco que navego sem forças o oceano da distância que nos obstruiu, remo com meus próprios braços em sua direção. Vou sem bússola, guiada pela estrela que me deu num dado momento de romance sob o luar. Sem sinal de terra a vista, ancoro em plena correnteza. Ossos não sustentam mais este corpo frio. A cada dia morro a míngua do sofrimento que provoco, mas você já me enterrou viva. Fingiu que se importava respeitando os dias de luto. Eu luto, deus sabe que sim! Há uma parte em mim que já soltou a corda, que não quer ganhar essa guerra. Há uma parte em você que ainda me quer. E ela é o fogo que acende meu tormento na escuridão de minhas incertezas.

Mentimos para nós mesmos naquela hipótese errônea de que tamanha beleza poderia voltar à tona. Perdidos no deserto que nossas vidas se transfiguraram, encontrar um oásis saciaria a sede que tínhamos um do outro. É próprio do ser humano acreditar que se algo é bom tem de se fazer de tudo para eternizá-lo. Sua ficha caiu primeiro que a minha. Você se foi novamente, mesmo antes de ter regressado. Sempre à frente tempo. Um tempo que não cura, apenas machuca ainda mais.

Estou rendida. Capturada em minha própria armadilha. Entrego os pontos para que entre nós haja um final definitivo. Sem reticências. Somos um livro mal escrito, um romance barato com um desfecho trágico. A vilã virou mocinha indefesa em perigo. A maior prova de amor que eu poderia te dar a essa altura do campeonato é te deixar partir de vez. Libertar seus espectros para que possam descansar em paz. E nos permitir uma segunda oportunidade de ser feliz, ainda que isso signifique não estarmos juntos, como já desejei.